Prefácio dos tradutores

Caras leitoras, caros leitores,

O impulso para esta tradução surgiu do desejo de elaborarmos um texto que fosse o mais fiel possível ao original, tanto em seu conteúdo quanto em sua forma de expressão. O conteúdo exposto por Rudolf Steiner é complexo e exige um grande esforço de quem deseja se ocupar dele, o que não pressupõe uma formação acadêmica filosófica para poder compreendê-lo. Isto se evidencia ao compararmos essa forma de expressão com as citações de outros filósofos nesta obra. O estilo abstrato, intelectual desses filósofos se contrapõe nitidamente ao pensar claro e vivo de Rudolf Steiner. Termos acadêmicos são empregados apenas quando o autor se refere a outros pensadores ou correntes filosóficas. Assim, esperamos que a linguagem mais acessível desta nova tradução ofereça a possibilidade de estudar com mais precisão os pensamentos do autor.

A filosofia da liberdade assume, na obra de Steiner, um lugar especial. Mesmo se tratando de uma obra filosófica, não será compreendida corretamente se a associarmos ao que, infelizmente, se tornara a filosofia na época de sua publicação original: um jogo abstrato de pensamentos que havia perdido toda e qualquer relação com a vida real, bem diferentemente da origem da filosofia na Grécia Antiga: as obras de Platão e Aristóteles serviram de fundamento para criar toda a nossa cultura ocidental; a filosofia era, assim, uma fonte de orientação para as pessoas e para a sociedade. No auge do impulso materialista e intelectualista do final do século XIX, Rudolf Steiner escreve sobre sua ‘filosofia da liberdade’ aparentemente estabelecendo uma disputa com outras correntes filosóficas — mas, na realidade, seguindo um impulso espiritual, com o propósito de mudar o rumo do desenvolvimento de uma humanidade ameaçada de perder suas raízes espirituais, preservando e redescobrindo a verdadeira natureza do ser humano.

Mas também para o desenvolvimento da antroposofia, como ciência espiritual, A filosofia da liberdade tem uma essencial importância. A partir do início do século XX, Rudolf Steiner expôs cada vez mais os resultados de suas pesquisas espirituais. Não existisse A filosofia da liberdade como base para um conhecimento espiritual, haveria dois riscos: 

O primeiro risco seria considerar a antroposofia como uma corrente dualista, ou seja, que considera a existência de duas realidades distintas: o mundo físico e o mundo espiritual. Muitas expressões empregadas por Rudolf Steiner, ao longo de suas exposições, podem ser interpretadas dessa maneira; contudo, ao se expressar sobre esses dois mundos, ele sempre pressupõe o conhecimento de A filosofia da liberdade por quem se aprofunda na antroposofia e que, assim, estaria ciente de não se tratar de um dualismo.

O outro risco, para quem busca se relacionar com a antroposofia, é assumir precipitadamente que todo o conteúdo expresso por Rudolf Steiner seja verdade pelo simples fato de se tratar de uma “revelação espiritual”. Assumir esta atitude seria totalmente contrário ao que Rudolf Steiner esperaria de antropósofos, ou seja: cada qual deve vivenciar a verdade dos pensamentos em si mesmo, não se submetendo a qualquer autoridade exterior. A filosofia da liberdade tem, assim, o propósito de ajudar o ser humano a desenvolver a confiança absoluta em seu próprio pensar, na medida em que ele realmente o desenvolva como uma capacidade individual.

Assim, a ‘filosofia da liberdade’ assume um papel importantíssimo, tanto no âmbito da antroposofia quanto no da vida em geral, como o alicerce seguro para o desenvolvimento de individualidades livres.

Desde sua primeira edição original, A filosofia da liberdade vem passando ao largo do reconhecimento público, a despeito do avanço das correntes filosóficas e do fato de muitos pensado  res da atualidade envidarem esforços para resgatar uma filosofia viva, que dialogue com a vida real.

Esperamos que esta tradução ofereça a cada vez mais pessoas a possibilidade de se ligarem a esta valiosa obra. O crescente interesse em estudá-la, verificado nos últimos tempos, preenche-nos com esta esperança.

São Paulo, setembro de 2022

João F. Torunsky e Rogério Y. Santos

Agradecimentos

Reconhecemos com imensa gratidão as valiosas contribuições de Valdemar Setzer, Sonia Setzer e Jacira Cardoso ao longo do zeloso trabalho de cotejo desta tradução, conferindo-lhe maior fidelidade, clareza e fluência.

Agradecemos sinceramente, também, a Rogério Calia e Jonas Bach por algumas especiais contribuições.

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